Câmara dos Deputados pôs a bola da anistia no
campo bolsonarista
Foi dado um cheque em branco em texto ainda
fictício
Urgência não
é mérito, ok. Mas não cabe dourar a pílula fazendo de conta que não houve uma vitória
dos radicais na autorização para
que um tema como a anistia seja levado à votação com um texto fictício e sem
passagem pelo rito das comissões.
Venceu o atropelo e estabeleceu-se a enganação de que uma redução de penas aos condenados por tramar e começar a executar um golpe seja uma solução aceitável, destinada a saída pacífica.
O jogo não foi zerado nem a bola está no
chão. Deslocou-se para o campo bolsonarista. A tigrada pode até não conseguir
livrar o chefe da prisão, mas a julgar pelo que pretende negociar, conseguirá
reduzir as penas dos crimes de abolição do Estado de Direito e golpe de Estado.
Um alento a intentos futuros.
Em matéria de manobra, não há dúvida sobre
quem foi mais competente. No encaminhamento da votação, na noite de
quarta-feira (17), os líderes da complacência para com atos de sedição evitaram
citar o nome de Jair
Bolsonaro (PL). Era, contudo, o sujeito oculto do pontapé
inaugural da refrega, em forma de urgência regimental.
Ali voltaram momentaneamente à tese inicial
de que a anistia seria para os golpistas paus-mandados do 8/1. Deixaram
Bolsonaro de fora, assentaram que o tema em exame era apenas processual e foram
pródigos em agradecimentos ao pessoal do centrão. Este agrupamento não tem
entre seus atributos a ingenuidade.
Sabiam todos o que faziam: passavam um cheque
em branco para a volta do ex-presidente ao protagonismo da cena. Não convém
menosprezar a capacidade de mobilização e convencimento de quem já obteve a
queda do tabu, o destravamento do tema, a entrada da anistia na pauta.
Daqui em diante, a batalha dos pregadores do
perdão pode até ser mais dura, mas o dado inquestionável é que os governistas
mais uma vez mostraram-se desorganizados e desatentos à força dos adversários
que demarcaram seu terreno.
É ilusão sentir alívio com a retirada do bode
da anistia ampla da sala, porque o bicho ficou na casa.
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