segunda-feira, 2 de junho de 2014

Apoio a atos pacíficos contra Copa chega a 57%

• Pesquisa do Instituto Gerp mostra que, apesar de aprovar as manifestações, morador do estado condena protestos que interditam as ruas ou usam violência

Maria Luisa Barros – O DIA

Rio - Cariocas não gostam de sinal fechado e muito menos de ficar horas presos no trânsito. Pesquisa do Instituto Gerp, encomendada pelo DIA , e aplicada em 870 pessoas do estado, entre os dias 23 e 29 de maio, revela que 57% dos entrevistados são a favor das manifestações pacíficas contra a Copa do Mundo.

Só 26% desaprovam os protestos. Mas, mesmo vendo com bons olhos as reivindicações nas ruas, os moradores do estado tiram o corpo fora de protestos que passam dos limites e prejudicam o direito de ir e vir. Questionados sobre a interrupção do trânsito em dias de manifestações, 64% condenaram o fechamento de vias, ainda que feito pacificamente pelos defensores de boas causas.

A enquete também mostrou que a população do estado não aprova a violência, seja ela praticada pela polícia ou por grupos de ativistas políticos. Quando os atos vêm acompanhados de depredações ao patrimônio e vandalismo, o percentual de pessoas contrárias aos movimentos é ainda maior. Do total, 71% condenam a violência praticada pelos manifestantes.

Na avaliação da socióloga Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, a despeito de muita gente achar que os protestos perderam sua força, a pesquisa constata exatamente o inverso.“A sociedade é a favor das manifestações. Mas o uso da violência acabou por afastar a maioria das ruas. O que se percebe é que as pessoas defendem o direito de participar dos atos, mas desde que não atrapalhem a sua vida”, analisa a cientista social.

É o caso de Cíntia Silvestre Batalha, dona de uma barraca de lanches na Quinta da Boa Vista, que apoia os atos, mas não a violência. No ano passado, durante a Copa das Confedereções, ela desmaiou ao ser atingida por uma bomba de gás lacrimogêneo. “Não tenho nada contra a manifestação, mas fui parar no Hospital Souza Aguiar por causa disso. Perdi o resto do meu dia de trabalho”, lamenta.

Meses depois, outra manifestação fez com que a ambulante se atrasasse duas horas para o outro trabalho como operadora de telemarketing. E ela ainda não conseguiu chegar a tempo de buscar a filha na creche. “Tive que assinar um termo me comprometendo a não fazer mais isso. Só que não tive culpa. Não tenho nada contra os protestos, mas já fui muito prejudicada. E ainda estou preocupada porque estou proibida de trabalhar na minha barraca nos dias que tiver jogos da Copa do Mundo, no Maracanã. Esse dinheiro que eu não vou ganhar vai me fazer falta”, afirma a ambulante.

Gorjeta fraca
Perder dinheiro é um assunto que o jornaleiro Derisvaldo Alves Pereira conhece de perto. Desde o ano passado, quando as manifestações começaram a tomar conta das ruas, ele vem contabilizando prejuízos por ter que fechar mais cedo sempre que a Cinelândia, onde tem uma banca há nove anos, vira palco de manifestações. “Normalmente, fecho às 22h, mas, agora, se sei que vai ter manifestação, fecho às 18h, antes que comece o quebra-quebra. Estou com os vidros da minha banca quebrados até hoje. O povo tem todo o direito de fazer reinvidicações, mas não precisa destruir o patrimônio público ou particular", acredita Pereira.

Garçom de um dos bares mais famosos da cidade, o Amarelinho, Raimundo Ferreira Barros, do alto de seus 30 anos servindo os clientes do endereço, também viu a sua renda cair por conta das manifestações. “As pessoas sentam aqui, mas, se veem algum movimento nesse sentido, já pedem a conta e vão embora. Quando clientes gastam pouco, nossa gorjeta fica pequena. Estou ganhando uns 40% menos. Gosto de manifestação pacífica, mas como houve muita baderna, o pessoal tem medo e prefere ir para casa cedo”, diz Barros.

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