‘Não vai haver nem vencedor nem perdedor’, diz especialista

Cientistas políticos divergem sobre impacto de mobilizações

Sílvia Amorim e Tiago Dantas | O Globo

SÃO PAULO - Apesar de toda a expectativa criada nos últimos dias, cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO acreditam que o primeiro depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro será mais uma demonstração de forças entre o petista e a Justiça Federal do que algo esclarecedor para o caso. A mobilização criada em torno do interrogatório, porém, divide opiniões.

Professor do Departamento de Gestão Pública da FGV/EAESP, o cientista político Marco Antonio Teixeira diz não ter expectativa para além de uma disputa de discursos:

— Vai ser uma guerra de retóricas porque, queira ou não, nenhum dos lados tem provas materiais que possam desmobilizar o outro. Vamos ver muito mais um espetáculo do que um embate esclarecedor.

Para Teixeira, não haverá “vencedor nem perdedor” em Curitiba hoje:

— Exatamente porque ficará no campo da retórica, acho que o resultado vai agradar as duas torcidas. Talvez seja um jogo em que não teremos nem vencedor nem perdedor.

Embora concorde que o depoimento de Lula é apenas mais uma fase do processo a que o ex-presidente responde, o professor de Ciências Políticas da USP José Álvaro Moisés acredita que o interrogatório pode ter um caráter educativo ao mostrar que uma pessoa com poder político pode estar no banco dos réus:

— O depoimento é importante para sinalizar que mesmo uma pessoa importante politicamente como Lula está sujeita à lei.

“MOBILIZAÇÃO RASA”

Teixeira não vê vantagens na “espetacularização”:

— Não acho que essa mobilização rasa contribui em algo para o país. Quem perde é a população com esses holofotes em torno de algo que, de certa forma, acaba tirando o foco do que realmente interessa hoje à nação. Temos duas reformas importantes em debate (trabalhista e Previdenciária) e a capital da República amanhã será em Curitiba.

Já Moisés afirma que a mobilização de petistas pode ter impacto nas intenções eleitorais do ex-presidente. Os protestos podem também ter o objetivo de influenciar juízes:

— Do lado do PT, há tentativa clara de transformar esse depoimento num evento político. Parece-me que é uma tentativa de vitimizar o Lula para criar um efeito eleitoral. E me parece que há outro objetivo. Se há mobilização de opinião pública a favor de uma vítima, pode pressionar os juízes contra condenação.